Precisamos retornar a Mateus 28:18-20 se quisermos entender o processo de formação dos discípulos. Ao estudarmos esse processo, também entenderemos melhor o significado do discipulado.
Prefiro denominar essa comissão de “comissão apostólica”, já que, na verdade, trata-se das ordens que Jesus deu especialmente aos seus apóstolos. Se não reconhecermos essa aplicação especial, alguns aspectos serão mal-empregados. Mas “a grande comissão” não é uma designação imprópria para essa passagem, que contém:
1. Uma grande afirmação: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”. Que afirmação admirável! Jesus afirma ter uma autoridade individida e ilimitada, a qual se estende a todo o universo. Não se pode escapar da autoridade de Cristo, não importa o lugar mais remoto do universo para o qual fuja.
2. Um grande encargo: “Fazei discípulos de todas as nações”, seguido de uma explicação do processo que consideraremos abaixo.
3. Uma grande promessa: “Eis que estou convosco todos os dias ...”, que, na minha opinião, refere-se ao preparo sobrenatural dos apóstolos para a sua tarefa (veja Marcos 16:17-20, especialmente o final; João 14:16-18, 25-26; Atos 1:8).
A responsabilidade principal da comissão é: fazer “discípulos de todas as nações”, mas a esse verbo Jesus adiciona dois particípios presentes no grego (traduzidos como gerúndios no português) que têm o efeito de completar a ordem e explicar como se formam os discípulos: “Batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.
Preste atenção nas relações gramaticais aqui envolvidas. Jesus não diz “fazei discípulos” e depois “batizai-os”, seguido de “ensinai-os a guardar todas as coisas”. “Batizando” e “ensinando” vêm de particípios presentes que definem, modificam ou limitam a ordem de “fazer discípulos”. O tempo de um particípio grego relaciona-se ao tempo do verbo ao qual está ligado. O particípio presente é usado quando a ação do particípio se dá no mesmo momento que a ação do verbo ao qual está ligado. Portanto, as três ações da ordem de Jesus – “fazer discípulos”, “batizando” e “ensinando” – são representadas como coisas que ocorrem ao mesmo tempo. Não se trata de três ações separadas e distintas, as quais podem ser dissociadas umas das outras. Jesus ordena que uma coisa se faça: “fazer discípulos”. As outras duas ações se subordinam à primeira; estão implicadas na primeira. Elas explicam o processo de formação dos discípulos.
É um processo que se divide em duas partes. Uma parte é o batismo. Não devemos pensar que poderemos ser discípulos de Jesus sem o batismo, pois ele é uma parte do processo de formação de discípulos. (Examine as implicações da questão sobre batismo em 1 Coríntios 1:12-13.)
Mais do que o batismo, porém, é necessário para que uma pessoa se torne um discípulo. A outra parte do processo é: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.
Mas ensinar todas as coisas que Jesus ordenou não leva muitos anos? E não tem que ser realizado nos vários anos após o batismo? Talvez. Mas Jesus não disse “ensinando-lhes todas as coisas que eu ordenei”. Ele disse: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. E qualquer pessoa pode aprender a observar tudo o que Jesus ordenou bem antes de aprender todas as ordens de Jesus e as suas implicações. Via de regra é assim que se forma um discípulo – sem que ele conheça todos os mandamentos de Jesus, mas não sem o compromisso de, sempre que perceber tratar-se de um mandamento de Jesus, observá-lo. Mas uma coisa é certa. Ele não pode se tornar um discípulo sem antes ter esse compromisso. Pois faz parte do processo de formação de discípulos.
O compromisso de “guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” não se faz com base no fato de que cada um dos mandamentos foi analizado e aceito pela pessoa. Pelo contrário, é provável que ela não conheça nem entenda as implicações de cada mandamento na hora que assume o compromisso em relação a Cristo. Mas ela se compromete a obedecer a cada ordem de Cristo porque crê e confia nele e porque aceita a sua afirmação de possuir toda autoridade no céu e na terra. Essa relação pessoal é a essência do discipulado.
L. A. Mott. Jr.